---------------------------------------------------------
O Brasil não conhece o Brasil, diz uma composição de Aldir Blanc. Essa
frase pode ser usada em diversos aspectos. O Brasil não conhece suas
belezas naturais - quantos tem dinheiro para viajar? Não conhece sua
história - quantos recebem educação de qualidade e se interessam pelo
assunto? E não conhece alguns de seus maiores tesouros.
Mas há aqueles que têm o prazer de conhecer alguns desses tesouros que
estão ali, disponíveis para quem quiser desfrutar. Basta garimpar. A obra
do cantador e compositor baiano Elomar Figueira Mello é um desses
tesouros. O público que lotou o teatro do SESC Pompéia na última
sexta-feira, 04, pôde se enriquecer com a beleza da poesia de suas
composições e com sua habilidade ao violão em uma de suas raras
apresentações.
Elomar foi acompanhado no palco pelos violonistas Maurício Ribeiro, Hudson
Lacerda e Kristoff Silva e pela cantora Letícia Bertelli. A apresentação
marcou o lançamento da publicação "Elomar: Cancioneiro", caixa que reúne
diversas partituras das obras do cantador.
Trajando botas, uma camisa azul com botões abertos e chapéu de couro,
Elomar toma seu posto no palco do teatro acompanhado de seu violão. O
jeito simples esconde um profundo conhecimento sobre a vida e os mistérios
do sertão. Para quem nasceu no asfalto, muitas vezes é difícil compreender
suas estrofes cantadas em dialeto sertanejo, transcrevendo as vivências,
trabalhos, amores e fé do homem do sertão.
E atenção: quando ler 'sertanejo' nesse texto, não cometa o grosseiro erro
de pensar naquilo que se vê por aí como sendo relacionado à música 'pop
sertaneja'. A distância entre uma coisa e outra é imensurável.
Após ser ovacionado pelos presentes, o silêncio toma conta do teatro e
Elomar começa a apresentação tocando "Parcelada". Logo nos primeiros
intervalos o cantador comenta sobre o fato do palco do SESC Pompéia ficar
no centro do espaço e a platéia dos lados, assim o artista tem que ficar
de lado para não dar as costas para o público. "Não sei pra que lado eu
viro pra cantar".
Fizeram parte do repertório "Mulher Imaginária", "Os Meninos", "O Rapto de
Joana do Tarugo", "Campo Branco", "Na Estrada das Areias de Ouro", esta
cantada por Letícia Bertelli em uma belíssima interpretação.
Durante alguns números Elomar deixa o palco para os violeiros e a cantora
apresentarem algumas músicas, entre elas a bela "Faviela". De volta ao
palco Elomar também apresentou "Noite de Santo Reis" e "Cantiga de Amigo",
entre outras. O cantador voltou ao palco duas vezes a pedido do público. A
apresentação foi encerrada com "Arrumação", dessa vez acompanhado pelas
vozes da platéia que até então se mantinha em silêncio sacro.
Na saída do teatro as expressões das pessoas indicavam o quanto essa
viagem pelos distantes rincões do sertão, guiada por Elomar, embeleza a
alma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário