sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sessão Sons e outros Baratos #5








Para a Sessão Sons e Outros Baratos trouxemos o livro "A Onda que se ergueu no Mar" "Novos Mergulhos na Bossa Nova" de Ruy Castro.

Ao contrário do que sugere o título , o livro não aborda só a bossa nova pura e simplesmente mas aprofunda o tema, após o livro "Chega de Saudades", Ruy Castro retorna ao tema relatando histórias saborosas que vão desde Tom e João Gilberto, passando pelo verão de Brigitte Bardot em Búzios , o auge e decadência de Lúcio Alves, Dick Farney e Orlando Silva , a saga do samba jazz do beco das garrafas entre outro relatos que nos transportam para uma época mágica na música brasileira.
O livro no início trata de Tom Jobim, sua excelência como compositor e porta voz de um país que atravessou fronteiras e que mesmo assim sofreu o descaso de parte da crítica brasileira que o acusava de "vendido pros Eua" entre outras atrocidades, um paralelo entre a obra de Gershwing , um dos grandes compositores da música Norte Americana e a obra e vida de Jobim .

Brigitte Bardot foi uma das grandes musas do cinema , tornando-se símbolo sexual através do filme "E Deus ..criou a mulher" de Roger Vadim em 1956, o livro relata quando ela praticamente incógnita passou um verão em Búzios tomando banho de mar e curtindo bossa nova , após fazer um acordo com a imprensa onde daria uma entrevista coletiva e depois sumiria das vistas pois teria vindo ao Brasil pra fugir da mega exposição que o cinema lhe concedera e após sua vinda Búzios se tornou "o refúgio de Brigitte Bardot" e não mais a ilha semi deserta que a atriz conheceu.
Interessante capítulo relata o crescente interesse de vários países , entre eles o Japão pela bossa nova, onde os japoneses disputam a tapas os discos de música brasileira nos sebos entre SP e RJ para ter acesso as capas que as gravadoras brasileiras por incrível que pareça não possuem em seus arquivos a arte das capas, o livro aborda as capas da gravadora Elenco de Aloysio de Oliveira , das gravadoras Forma, Odeon entre outras abordando o estilo dos artistas responsáveis pela arte das mesmas bem como o descaso e ignorância das gravadoras nesse filão artístico que são as artes das capas, ao ponto de quando as gravadoras internacionais precisam das capas para lançar os discos no exterior recorrem aos sebos ou a gravadoras de outros países que já tenham lançado tais discos; As gravadoras reclamam da pirataria hoje em dia , mas não cuidaram nem de seu acervo só se importando com os lucros , deram o maior tiro no pé da história!
O "Cantor das Multidões" como era conhecido Orlando Silva é abordado no livro , pois foi influência decisiva para João Gilberto , Orlando que é considerado pelo autor um dos maiores cantores do mundo , teve seu auge , disputado a tapas pelas fãs, mergulhou num mar de morfina , isso mesmo! e perdeu sua bela voz além dos dentes e da dignidade , triste capítulo do livro mas que aborda uma trajetória muito peculiar de um dos artistas mais populares do Brasil nos anos 30 e 40.
O samba jazz , originou-se da bossa nova e dos ambientes enfumaçados do "Beco das garrafas" e gerou muitos músicos bons que tiveram que abandonar o país quando as gravadoras , sempre elas, fecharam as portas para a música instrumental , o capítulo que aborda esse tema narra a história de Tenório Jr , pianista brasileiro que morreu em circunstâncias misteriosas na Argentina quando estava excursionando com Vinicius de Moraes e Toquinho , o pianista saiu pra comprar cigarros e não retornou mais, soube-se após longa data que Tenório Jr foi preso pela ditadura argentina por se parecer com um "intelectual de esquerda" pelos cabelos e barba compridos , sendo torturado pelos parceiros brasileiros da ditadura da Argentina, sendo morto pelos torturadores brasileiros .
João Gilberto com suas "esquisitices" ou peculiaridades são detalhadas em capítulo delicioso sobre o artista , relatos de pessoas que servem o almoço de João todos os dias às 11 hs da noite , sim isso mesmo 11 hs da noite, e NUNCA viu João, ele alcança os pratos por uma fresta da porta ou o caso de Almir Chediak que preparou o nunca lançado songbook de João e seguia a mesma regra alcançava as partituras para João corrigir e pegava as corrigidas pela fresta da porta e até o violão para trocar as cordas seguia a mesma regra, mas revela o João Gilberto de memória musical incrível capaz de lembrar de canções dos anos 30 com detalhes de arranjos comos e tivesse ouvido ontem a canção, sendo que João nem aparelho de som tem em sua casa....., o João extremamente detalhista em suas gravações, sendo a gravação do disco "João" lançado na década de 1990 uma verdadeira odisséia que movimentou amigos no Brasil e do exterior para "ajudar João a avaliar as gravações".
Bela leitura para quem quer desvendar uma geração que até hoje encanta o mundo todo.
A onda que se ergueu no mar- Novos mergulhos na bossa nova" -Cia das Letras








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